SCREAM FOR ME RECIFE!

31 de março de 2009. 4 e meia da tarde. A ansiedade me matava enquanto eu entrava nos arredores do Jockey Clube do Recife e caminhava na direção da entrada. Meu companheiro de viagem, Rafael (vulgo Kwikwi), não tinha ingresso, mas como bom amigo, não o deixaria perder tal show. Nos juntamos eu, ele e outro amigo dele (Ricardo) e compramos um ingresso pra ele. Assim que conseguimos o ingresso, entramos. Duas barreiras de seguranças, catracas, fui bem revistado, outra fila de seguranças e entrei. Ainda estava claro, não tinha muita gente. Calculei 15 mil pessoas, no máximo. Telefonei para o pessoal de Caruaru para encontrá-los. Achei Lucas perto dos banheiros e logo depois, encontrei com o resto do povo. Estavam lá os gêmeos Luiz e Cláudio (Lula e Cacau), o irmão mais novo deles Marcos (Caco), o primo Igor (O gordão), e outras pessoas que eu não conhecia. Comprei uma Coca-cola por R$ 3,00 e fomos para perto do palco. Os meninos começaram a jogar UNO no chão (hauhauah) e a arena começou a ficar cheia. 5 e meia. A essa altura já haviam mais de 20 mil pessoas no lugar. Minha ansiedade só aumentava, eu estava ali, no Jockey Clube, esperando o Iron Maiden entrar no palco. A estrutura estava simplesmente linda. O palco enorme com o fundo coberto por um pano amarelo-ouro guardando a surpresa de qual seria a imagem de fundo aguardava a entrada da melhor banda de Heavy Metal da história. E nós estávamos ali. E eu estava ali. Esperando. Um tempo depois, também encontrei Amanda, amiga dos tempos do colégio, (a gente tirou uma foto legal que depois eu posto aqui pq é raro eu gostar de uma foto minha) mas ela só falou comigo e foi embora. Liguei para várias pessoas, mas a quantidade e a aglomeração do povo impedia todos de sair dos seus lugares e se encontrar. 7 horas da noite. Muita gente. Muita gente MESMO! Já havia pelo menos 25 mil seres humanos aguardando a entrada da banda. Vi uma criança de no máximo 8 anos nos braços da mãe e sorri. Pensei:

"Esse garoto vai ter um gosto musical excelente quando crescer."

"Maiden! Maiden! Maiden! Maiden! Maiden!"

Faltavam vinte minutos para as oito horas. O público não aguentava mais esperar. Na frente do pano amarelo-ouro, uma imagem enorme de Lauren Harris, filha do baixista Steve Harris, que abriria o show deles. Dez minutos depois, a moça entrou no palco, cantando músicas dela. Ninguém conhecia nada, mas o público se animou e o show dela ajudou a esquentar o pessoal, mas isso não era o suficiente. Eles queriam Iron Maiden. NÓS queríamos o Iron Maiden.Do lugar onde estávamos, mesmo próximos ao palco, não podíamos ver bem o palco. Muita gente. atravessamos a arena, chegando do outro lado, mas ficava longe demais. Não se sentia a emoção do show. Eu, Rafael, Ricardo e outros dois amigos voltamos e encontramos um lugar bom, mais longe do primeiro, mas dava pra ver perfeitamente. A moça cantava bem, mas tinha uma voz meio ruim... Cantou por volta de cinco ou seis músicas e saiu. Liguei para Lucas e eles vieram para onde estávamos, onde dava pra ver tudo. Retiraram a imagem dela da frente do pano amarelo-ouro. Vinte pra as 9hs. O público não parava de gritar "MAIDEN! MAIDEN! MAIDEN!" o tempo todo. Olhei para o relógio do celular. Nove e dez. Já estava na hora. As luzes apagaram. O público gritou. Meu coração ia explodir, eu comecei a tremer, e nos telões, as imagens deles chegando no aeroporto do Recife. O público gritava e gritava. Pararam as imagens. E no telão... A abertura. Cenas da segunda guerra mundial. Todos já esperávamos. Aces High. A música que ia abrir o show. As lágrimas começaram a correr pelo meu rosto quando comecei a gritar tanto que a asma pedia pra que eu parasse, mas eu aguentei. Eu estava lá, vendo o Iron Maiden. Ouvimos a voz dele. Bruce Dickinson. Eram eles. O pano amarelo havia sido removido, mostrando a imagem do álbum Powerslave enorme atrás do palco. Meu corpo tremia, mas eu gritava e gritava, e cantava junto com ele! Eu estava lá! EU ESTAVA NO IRON MAIDEN!

"There goes the siren that warns of the air raid

Then comes the sound of the guns sending flak..."

Minha asma atacava, pedia para eu parar, mas eu simplesmente não podia. Eu estava lá cantando junto com Bruce Dickinson. Jamais vou esquecer a sensação. E passaram-se as músicas. Wrathchild, 2 Minutes do Midnight, e assim foi... Quando apagam as luzes do palco, muda a imagem do fundo. Powerslave sai e entra The Trooper. Bruce aparece carregando uma bandeira enorme da Inglaterra e vestido como Eddie na capa. Chorei de novo. Gritei de novo. Meus pés já pediam pra eu parar de pular. Minha asma já tinha desistido a essa altura.

"You take my life but I'll take yours too!
You fire your musket but I'll run you through!"

Estávamos desorientados, era o Iron Maiden lá no palco, há uns 200m da gente...

"Screeeeeeam for me Recife... SCREAM FOR ME RECIFEEEEEE!"

Eu não conseguiria descrever a emoção de estar lá em baixo tirando forças não sei de onde pra gritar quando Bruce falava isso... Tudo que eu queria era gritar o mais alto ali, para que talvez eles me ouvissem...

"RECIFE IN THE DARK..."

Não tenho palavras que expliquem o que se passou ali quando começaram a tocar Fear of the Dark... Era simplesmente lindo, ouvir aquele coro de pessoas cantando como se se comunicassem telepaticamente, a uma só voz.

"Fear of the dark...

Fear of the dark...

I have a constant fear that something's always near...

Fear of the dark...

FEAR OF THE DARK

Ha ha ha ha hahahahaha...

I have a phobia that someone's always there!"

Lindo. Simplesmente perfeito. Meu corpo já doía. Minhas pernas pediam pra eu parar. Meus braços pediam pra eu parar. Minha garganta pedia pra eu parar. Meus pulmões pediam pra eu parar. E eu mandava todos se calarem e simplesmente continuava. Eu não iria parar. Não ia. NÃO IA. A música Iron Maiden. A uns 2 minutos de música, Eddie entra no show. Sim, Eddie. Ele entra, tira onda com os caras, TOCA GUITARRA e sai. Só isso? ISSO TUDO!

Uma hora e meia de show. Eles saem do palco como quem vai embora. Mas fãs são fãs. Nós sabíamos que não tinha acabado. Palco vazio. Powerslave novamente como fundo. Ninguém no palco. A voz de Bruce entoando a passagem do Apocalipse... Eles voltam ao palco, cantando The Number of the Beast, e eu continuava lá, resistindo todo tipo de dor, cansaço e sede só para vê-los. Só pra poder cantar com eles. Encerraram o show com Sanctuary, que eu tinha aprendido no mesmo dia do show. Cantei, gritei, paguei 5 reais em uma garrafinha de água, mas faria tudo de novo pelo dobro do preço. Valeu a pena. Up the Irons! SCREAM FOR ME!